segunda-feira, 6 de junho de 2011

A lua do Rogéria

Quando eu saí do Querubim, para fumar um cigarro ao cair da tarde, o Rogéria pediu para eu reparar na lua. Eu gosto muito de vê-la, mas nunca lembro-me de observá-la. Disse isso a ele e pensei o quanto fico feliz quando pessoas me apontam coisas agradáveis que não percebo de antemão. Mais do que gostar que as pessoas concordem ou discordem de mim, me elogiem ou agradeçam, me agradam aquelas que me mostram novidades. Ou coisas sob novas perspectivas. Ou, ainda, coisas que eu já sei, mas que nem sempre lembro - como é o caso de olhar a lua.

O Rogéria é uma das pessoas que mais se parece comigo que conheço - eu costumo dizer isso com frequência. Ele, por ser parecido comigo, também. E ele é uma das pessoas que mais admiro no mundo - não por sermos parecidos, obviamente.

Ele segue seus sonhos, sendo guiado mais pelo coração do que por qualquer outra parte do corpo (como se o coração ficasse dentro do corpo). Se os alcança ou não, é o menor dos pontos - só faz gol quem chuta. Sempre que me pedem conselhos ou opinião, a bem da verdade é que quase nunca eu sei o que dizer. Nunca tenho opinião formada sobre as coisas e acho que cada um tem a capacidade e o direito de decidir sobre sua vida. Mas, de forma geral, se pudesse aconselhar algo seria "siga seu sonho."

O fato dele personificar isso que penso é um dos motivos da admiração. Mas há vários outros: ele coloca em prática com muito mais naturalidade e resultados o que tento há tempos, com esforço diário: o respeito, a alteridade, o não julgamento, uma não diretividade toda própria também. Mas ele também admira a lua, coisa que nunca me lembro e sempre esqueço que gosto.

No dia seguinte ao Querubim, levando-me ao aeroporto, Rogéria lembrou o que eu havia dito e repetiu. "Olha a lua, que bonita". Eu tentei olhar, mas como estava espremido no banco de trás com mais três pessoas (felizmente espremido por alguns dos meus melhores amigos), foi praticamente impossível olhar pela janela.

De qualquer forma, ainda estava visualizando o quadro na parede da sala da casa do Rogéria.

Casa construída também com os próprios braços em Floripa - mas também com muitas lágrimas felizes e tristes, muito suor, muita BR-116, e mais ainda a vontade de alcançar um sonho.

Relembro tudo e vejo que depois de largar o emprego em SP e sair do apto de dividia comigo em finais de 2006, ele se fixou em definitivo (tão definitivamente quanto pode ser qualquer coisa na vida de uma pessoa com a alma solta, um coração enorme e a vontade de viver de poucos) na capital catarinense.


"Follow your dreams", eu repito.

"Olha a lua, Bucha", diz Rogéria. E sorri.




terça-feira, 31 de maio de 2011

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Eu quero acreditar

Não julgar. Não ser diretivo e respeitar a individualidade do outro. Acreditar que o outro sabe muito melhor qual é seu melhor caminho do que eu, que estou de fora. Respeitar a individualidade, ouvir, não opinar ou ser diretivo.

Quando fugir desse caminho, olhar para dentro. Se entender, compreender o que me incomoda e como posso mudar, aceitar, digerir melhor a questão e devolver bons sentimentos, boas vibrações e excelente postura.

A teoria é linda. A prática, também. O duro é exercitar em sua plenitude tudo o que escrevi acima. É exercício diário. Horário, na verdade. A todo momento, para ser honesto. É muito simples dizer que "cada um sabe seu caminho e respeito suas escolhas". A prova vem quando aparece alguém com uma corda no pescoço. Não é simples não dizer "alto lá, pensa bem".

Mas nem preciso ir tão longe ou ser tão dramático.

Por vezes, é muito difícil aceitar a escolha de certas pessoas. Como quando a gente se lamenta que fulano começou a namorar sicrana insuportável. Ou quando fulana sumiu da roda de amigos porque casou, ou mudou ao se juntar com sicrano que é um débil mental.

Aí, o próximo passo é ser maledicente. "Mas cidadão é uma anta, um pau mandado. E namora uma coisinha que é o Hitler sem bigode. Ou melhor, de buço." E assim por diante.

Aí, o primeiro passo, acho, é calar. Depois, olhar para dentro, e entender porque é tão incômoda aquela situação. Depois disso, como fazer para que a situação pare de te incomodar. É uma espécie de engenharia reversa, que parte da ação, pula para o pensamento e termina no sentimento. Já que, aí sim acredito piamente e desde algum tempo tento colocar em prática, tento ser uma pessoa melhor a partir do sentimento. Com eles em sintonia e em paz, o pensamento serena e as ações são melhores possíveis.

Ações essas que devem ser exercitadas diariamente. A todo instante, na verdade. Ainda esotu engatinhando, mas eu quero acreditar. E colocar em prática.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

"Como é bom viver nesse mundo"


Um ditado que sempre ouço é o que diz que para morrer, basta estar vivo. Estranho, mas até estudos estatísticos foram feitos sobre tal ditado. Não sei se recentemente ouvi alguém dizê-lo ou se simplesmente me veio à cabeça, como aqueles pensamentos que vem e vão, sem nenhuma explicação ou como quando ouvimos uma música chata, e que sei lá porque diabo, sem mais nem menos, estamos cantando a dita cuja. O fato é que por alguns dias fiquei encasquetado com isso, e quando lembrei que estou vivo e posso morrer de uma hora pra outra, confesso, fiquei assustado. Não com a morte em si, mas com a possibilidade de deixar tantas coisas inacabadas. Sim, porque o ditado é verdadeiro, aliás, é uma das poucas  frases que não há como contestar. Parece que não existe sentido em fazer tantos planos, já que em um piscar de olhos tudo pode mudar. O que importa é o presente e o resto, que seja como for.

O Sérgio já falou do medo de estar brigado com alguém, e de repente morrer sem antes se reconciliar, isso também me preocupa. Foi aí que resolvi “reconciliar-me” com algumas pessoas, não que houvesse algum tipo de intriga, mas decidi assumir meus erros, e falar, com a maior sinceridade possível o que não me agradava. Feito isso, senti-me tão bem, que fiquei surpreso com o desenrolar das coisas nos dias seguintes. Foi como se um enorme peso saísse das minhas costas e de lá pra cá não consigo expressar o quanto me sinto bem. Sempre achei que não existe problema que não possa ser resolvido, o que falta, muitas vezes é paciência. Mesmo restando tantas coisas a fazer, acho que se morresse hoje, ficaria menos preocupado.

O último livro que li trazia nas primeiras páginas a seguinte frase: "como é bom viver nesse mundo". Acredito que ela seja tão verdadeira como a que diz que para morrer, basta estar vivo. Mesmo que vivamos em um mundo onde se deixa a barba crescer para em seguida matar crianças, acredito nesta frase. Melhor ainda que viver nesse mundo, é viver bem com as pessoas que convivemos, gostando ou não, o importante é estar bem com todos.

Se você duvida do estudo, está aí o link: http://super.abril.com.br/superarquivo/1996/conteudo_35351.shtml

sexta-feira, 25 de março de 2011

Desprendimento

Há alguns dias resolvi arrumar algumas coisas e me surpreendi com a quantidade de roupas, papéis, e outros objetos que não serviam pra nada. E olha que nem tenho tantas coisas assim, porém, tenho a impressão de que tenho muito mais do que preciso para viver.

Resolvi doar a maior parte de todas aquelas bugigangas, e o que nem pra isso servia, decidi jogar fora. Mesmo sabendo que nada daquilo teria utilidade, por um momento, hesitei. Quase coloquei tudo onde estava. Sem saber porque, fiquei procurando utilidade para tantas velharias, e o pior, sempre encontrava. A blusa velha com furo poderia servir para dormir, todo aquele monte de propaganda de produtos poderia ter alguma informação útil, e até as canetas que não pegavam poderiam em um passe de mágicas voltarem a escrever, ou seja, surgiram milhares de hipóteses para justificar a estada de tudo aquilo. Um sentimento bem egoísta tomou conta de mim, mas isso não durou muito. Já conheci pessoas que mal tinham o que comer e ainda penso assim.

Uma vez alguém disse que deveria me preocupar mais com a maneira como me apresento à sociedade. Escolher melhor as roupas que uso, sempre estar de barba feita, cabelo cortado e toda aquela baboseira que sabemos de cor e salteado. Claro que não dá para ser hipócrita e pensar que tudo isso não tem importância, mas sempre me pergunto o que é mais importante, afinal de contas, o fruto ou a casca?

Nos últimos meses tenho lido com ferquência o Bhagavad-gita. Ao folhar as páginas tentando compreender o sentido dos versos, percebo como é difícil desprendermo-nos das coisas, principalmente as materiais. Não acredito que seja egoísmo, propriamente dito, mas não sei porque damos tanto valor ao que não nos serve de nada.

segunda-feira, 21 de março de 2011

A Paz

Há uma semana, eu estava angustiado, triste, com diversos pensamentos em redemoinho em minha cabeça. Eu sabia que era tudo, baiscamente, proveniente de excessos do carnaval - incluindo aí o álcool, que é depressor -, o cansaço acumulado, algumas noites mal dormidas por conta de plantões seguidos madrugada adentro. Em resumo, esgotamento físico, mental, espiritual.

Mas o tempo passa, as coisas vão passando com ele e, de repente, acordo bem. Sempre acontece isso e nessa segunda-feira acordei muito bem. Até me surpreendi com isso. Feliz mesmo. O descanso do final de semana e encontrar pessoas queridas sempre ajuda muito. Ontem ainda estava cansado, mas já não estava mais desanimado. Hoje, volto a estar 100%. Agradeço a todos que se preocuparam e, como disse uma pessoa querida, "estranho seria se a gente nunca tivesse fases ruins".

Bom, aí, feito esse preâmbulo, estive pensando hoje sobre um negócio que tem, aparentemente, incomodado algumas pessoas que conheço. É o lance do ganhar bem x trabalho ruim. Ou vice-versa. O Alex falou disso uns posts atrás. Eu mesmo demorei a encontrar um lugar que equilibrasse as coisas. Ou trabalhei em empresas em que o trabalho era excelente e o clima ótimo, mas que não pagava bem, quando pagava. Ou trabalhei em empresas em que tudo era um porre, mas pagavam muito bem e muito em dia.

E aí vamos chegando - e passando - dos 30 anos e ficamos com aquelas dúvidas na cabeça. A escolha de um trabalho chato, mas que garanta um bom futuro e uma certa estabilidade é o alvo de muitas pessoas. Mas quando elas chegam a isso - exemplo, funcionalismo público - ficam com dúvidas se realmente querem estabilidade, um bom salário e um trabalho boçal pelo resto de suas vidas.

Minha escolha foi a do negócio próprio. E já faz tempo. Tem sido duro e prazeroso. Uma das pessoas que mais admiro, uma das mais corajosas que conheço, que já foi minha sócia, inclusive (oi, Renata!), também escolheu essa via e, pelo que tenho percebido, está na mesma perspectiva do que eu: muito trabalho, muito sufoco e bastante recompensa pessoal e profissional. Nunca é fácil se livrar das amarras. E, com isso, não estou dizendo que é certo ou errado abandonar uma carreira em prol do trabalho gratificante ou pensar no pagamento e viver um dia a dia horroroso.

Acredito piamente que cada um encontra seu caminho. E que cada um sabe o que é melhor para si. O que muitas pessoas acham "loucura" ou "idiotice", tento compreender sem adjetivos. É assim e pronto. As coisas são da forma que olhamos para elas. E ninguém sabe como é a jornada do outro.

Mas digo isso porque hoje lia um livro sobre psicoterapia (Tornar-se pessoa, do Carl Rogers), e ele conta uma experiência com macacos recém nascidos, feita não sei quando e não sei bem onde. O fato é que pegaram alguns macacos bebês, os separaram das mães por alguns dias. No lugar das mães, colocaram duas mães falsas. Uma estrutura de ferro e arame, dura, que mantinha uma teta com leite. Era a "mãe dura". A outra era uma estrutura macia, malemolente, bastante flexionável, que era a "mãe mole".

O que se viu foi que, apesar da "mãe dura" ter o alimento dos macaquinhos, eles se apegaram mais à "mãe mole", procurando se encaixar no seu colo e coisas assim. Eventualmente, quando colocavam objetos estranhos na jaula, para assustar os bichinhos, eles procuravam abrigo e proteção na 'mãe mole". É um instinto primitivo que mostra que, nos macacos, a recompensa está relegada à segundo plano em relação ao calor e ao afeto.

O que isso quer dizer? Bom, no livro tem alguns caminhos que o autor explora, mas acredito que cada um pode tirar a lição que mais lhe aprouver isso - se é que há uma.


quarta-feira, 16 de março de 2011

Sobre a Transitoriedade das Coisas

Faz tempo que quero escrever aqui sobre a transitoriedade das coisas.

De como tudo passa e de como nós - no caso eu - temos a mania de acreditar que tudo é para sempre. Pensando friamente, no fundo, sei que tudo são fases.

Mas é que é muito difícil superá-las, mesmo sabendo que no futuro tudo mudará.

Digo isso porque pela minha cabeça passa um turbilhão de pensamentos, que não consigo desatar. Por mais que tente. Fazia tempo que não me sentia assim, meio inquieto e confuso, basicamente sem qualquer motivo específico. Mas quando os sentimentos falam, não é necessário um motivo. Eles estão lá, mas não estou preocupados com eles - eles vem e vão. E será assim por toda a minha vida. Estou preocupados com o que sinto.

Aliás, tem-se a mania de dar valor ao que fazemos e ao que somos, nunca ao que sentimos. Espera-se que estejamos bem. Torce-se para isso até. Tanto que o cumprimento mais comum é "oi, tudo bem?". Dificilmente é o "como você está?". Porque sentimentos são relegados a um terceiro plano, normalmente.

Penso que o que fazemos e o que somos é fruto do que sentimos. Na verdade é um tripé em que o que fazemos e o que sentimos resulta no que somos. De qualquer forma, deveria-se dar mais espaço aos sentimentos. Uma reação exacerbada, ou menos inflamada tem sempre a ver com o que se sente. Atos e impulsos, que atropelam ciclistas ou que deixam escapar pequenos "eu te amo" em uma manhã qualquer, são frutos do que sentimos e de como lidamos com nossos sentimentos.

Por isso discordo de afirmações como "você tá chorando? que bobagem!" ou "nossa, que tonto, ainda gosta dela". Acredito que todo sentimento deveria ser validado. Assim como acho que podemos olhar para dentro e trabalhar melhor com eles e, por conseguinte, conosco mesmos e, por mais conseguinte ainda, com os outros. Porque no fundo tudo são relações humanas. E, menos no fundo ainda, somos todos semelhantes.

Me dou bem comigo, me dou melhor com quem está ao meu redor.

Simples assim? Não é tanto. Acho que é um pouco de exercício diário, que começa com o olhar para dentro. E assim, quem sabe, as pessoas no mundo possam dia após dia atropelar menos ciclistas e dizer mais eu te amo.

(PS1. Lá no começo eu queria falar sobre a transitoriedade das coisas. Desisti. Porque até os assuntos são transitórios. E tudo vai passar. Não hoje, não amanhã, mas... bom, o Caio Fernando Abreu sabe quando.)

(PS2. Paulão, desculpe postar sobre seu texto, mas estava precisando escrever.)

Pequenas coisas

Desde que começamos o blog, eu, Sérgio e agora o Alex, cada um à sua maneira, procurou expor de maneira simples o que sente em relação às mudanças de nossas vidas, e assim procuramos demonstrar das mais variadas formas os sentimentos aos mais estranhos temas. Em momento algum pré estabelecemos o que seria escrito. Tudo surgiu naturalmente e isso torna o espaço bem agradável e democrático. Relendo alguns textos percebi como hoje estamos mais a vontade para falarmos de nós mesmos, independente do assunto tratado. Bom, isso não tem nada a ver com o que ia escrever, mas achei justo de nota.

Sempre acreditei que simples ações geram grandes mudanças, porém, até hoje, nunca as valorizei como deveria. A mania que tenho em não me preocupar com o que parece não ter muita importância, geralmente, causa-me grandes problemas, e na maioria das vezes estes poderiam ser resolvidos sem grandes transtornos. Quase sempre deixo tudo pra última hora, e o que era insignificante torna-se um tormento. O pior é que sempre prometo que nas próximas vezes tudo será diferente, mas como pode-se imaginar, isso nunca muda. Não é possível, que depois de trinta anos, de ter perdido metade dos cabelos que tinha as coisas não mudem. Se continuo errando, é porque não aprendi. Sei que o caminho vai ser longo, não só em relação á isso, mas em tantas outras coisas.

Enfim, sinto que reconhecer os erros já é um grande progresso, pelo menos penso assim. Sei que muitas coisas nunca vão mudar e ponto.  O que tento fazer é aprender a lidar melhor com tais situações, sempre tentando minimizar ao máximo as conseqüências dos meus atos.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Inconstância das coisas

Agora, sempre ao começar escrever abro a janela do meu quarto. Como consigo em um espaço tão pequeno criar meu próprio mundo? Vejo o céu e percebo que há algo que nunca enxerguei. Na verdade nunca reparei no céu como deveria. Olho e vejo como são engraçadas as estrelas quando reparamos mais detalhadamente para elas, um infinito de formas são criadas e tudo de acordo com meu pensamento. Num piscar de olhos criamos um mundo só nosso. A brisa é agradável, gosto dela, traz uma sensação boa que parece purificar a alma. E tudo isso me faz pensar como sou desatento aos mais simples detalhes da vida, muitas vezes o simples parece fazer toda diferença.

  Os sonhos que tenho são os mesmos de tantos que não pode haver no mundo lugar para tantas realizações.

Ao mesmo tempo em que inicio este texto centenas, ou porque não outros milhares, estarão sendo escritos. Muitos jamais serão lidos e isso não quer dizer que sejam melhores ou piores. Alguns serão esquecidos, assim como seus autores e com o passar dos dias não só os textos e autores, mas o lugar onde tudo isso se deu. Como tudo na vida estão fadados ao esquecimento. Impressiona e assusta a velocidade com que as coisas se deterioram. Não há como ser diferente, é a lei da vida, tudo que nasce um dia morre. Isso me faz lembrar como as coisas são inconstantes, como a vida passa por entres os dedos num instante e o que é vivo hoje, amanhã é pó.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Iniciativa privada

Minha estréia aqui nesse blog é de um assunto mais chato, mas como vivo disto durante 8 horas, isso me incomoda muito. Gosto mais de filosofar e teorizar, mas contrariando o que gosto de fazer, vou iniciar a minha participação com uma reclamação mais corporativa. Não sou workholic e estou longe de ser um profissional de sucesso, aliás, preferiria até ser mendigo e feliz do que ser sucedido e infeliz. Juro que das próximas vezes, preferirei falar mais de mim, do que reclamar da vida.
Tinha um professor, João Sayad, que dizia que as grandes corporações eram tão ineficientes quanto as empresas públicas. Sempre tive a tendência de ser mais liberal e sempre duvidei desta afirmativa.
A cada dia que passa, concordo mais com o meu professor. Trabalho numa empresa de grande porte e vejo que as pessoas estão mais preocupadas no seu próprio bolso, do que em função da empresa.
Não que isso seja errado, claro, estamos aqui para trabalhar e ganhar nosso salário no final do mês. Porém, acho que a satisfação de fazer algo que você realmente se importe, durante as 8 horas de trabalho, é bem superior a qualquer remuneração. Pode-se ganhar 3 x mais em qualquer trabalho, mas se não tiver prazer naquilo que está fazendo, não vale um centavo.
Mas o que me incomoda realmente, entretanto, é o discurso vazio e a falsidade, principalmente das pessoas mais indicadas a colocar os interesses da empresa em primeiro lugar, não o fazem. Quem diria nós, do mais baixo clero. Sempre tive uma certa admiração das pessoas que gerenciam uma equipe de pessoas. Mas se pedissem para citar hoje, alguém que admiro no meu ambiente de trabalho, não encontraria ninguém.

Porém, o mais importante de tudo isso é como o sistema se adapta. Por exemplo, eu faço certas ferramentas para controlar os fluxos de trabalho. Posso dizer que 100% das pessoas estão mais centradas em burlar essa ferramenta e mostrar “bons resultados” do que averiguar qualquer desvio no processo. O que para um dono ou acionista, ou mesmo gerente/diretor da área seria ótimo. Mas os mesmo passam os resultados “bons” para o superior imediato, para mostrar que toda a área dele funciona e assim por diante.

Ninguém também assume qualquer responsabilidade sobre qualquer processo. É mais fácil criar um “grupo de trabalho”, onde ninguém assume responsabilidade direta para achar uma “solução”. Ou seja, o processos vão e voltam, porque nunca ninguém atacou a causa-raiz, mesmo porque para isso tem que se indispor com outros departamentos, clientes ou fornecedores. E ninguém quer isso. Então é melhor elaborar um “projeto” e fazer as coisas se resolverem sozinhas.

Conclusão de tudo isso: Estou certo que seria mais feliz se abrisse um negócio próprio, e também que não existe ninguém melhor que ninguém. Só que alguns são promovidos com mais facilidade porque nasceram com a personalidade e comportamentos que são bem mais adaptados nesse ambiente “empresarial”.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Pronto

Poucas coisas me irritam e dificilmente incomodo-me com as pessoas. Porém, ando mais crítico que costumava ser, e confesso, tenho dificuldades em lidar com tal mudança. É claro que estou incluso a todas as avaliações e julgamentos deferidos por mim mesmo e tudo isso me causa certo desconforto. Faz com que muitos dos defeitos, antes imperceptíveis, pra mim, hoje sejam insuportáveis, a ponto de deixar-me irritado comigo mesmo por dias. Quanto às pessoas, não consigo deixar de pensar que sempre possam fazer melhor e na maioria das vezes não percebo nem respeito à limitação de cada um. Tornar-se mais crítico não me parece ser algo negativo, mas a tudo sempre existe o meio termo e é justamente isso que tenho que aprender. Tornar-me menos intransigente, é isso que desejo, parece algo fácil, porém para uma pessoa teimosa é um grande desafio.

Sinto a responsabilidade bater à porta o tempo todo. Ultimamente de forma intensa, causando muitas vezes confusão em meus sentidos, mas passado um tempo fica uma sensação agradável como que cumprir com as obrigações tornasse-me mais leve. O dever cumprido agrada. Toda pressão que sinto tento transferir a outrem e é exatamente aí que cometo grande parte de minhas falhas. Exigir menos de mim e dos outros é algo que preciso aprender.

Não consigo pensar na vida se não como um grande desafio. Tenho perdido muito tempo com coisas inúteis e que não fazem a menor diferença. Mesmo estando à mercê de todo tipo de julgamento sinto-me tranquilo e a vontade em relação a tudo. A pressão imposta muitas vezes sufoca, mas quase sempre encontro saída para os mais diversos tipos de situações.

Percebo novas oportunidades surgindo e quero agarrá-las com todas as forças. Tenho certeza que nunca estive tão preparado para tal.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O Idiota


Há tantas coisas que quero escrever que muitas vezes fico confuso e sem saber por onde começar. As idéias vão surgindo, mas no fim fica difícil compactar tudo e transformar em texto. Sem contar o fato de que escrever sobre nós não é nada fácil, existe ainda, pelo menos de minha parte, certo receio quanto aos temas escolhidos, já que a maioria reflete algo que sinto. De qualquer forma, ultimamente, tenho estado mais a vontade para escrever, as palavras surgem naturalmente, sem muita dificuldade e não fico mais constrangido em expressar o que sinto. E assim tem sido minha vida, um paralelo aos textos que escrevo.

O que fazemos aqui é algo novo, pra mim.

O mais difícil é escrever quando não temos um assunto específico. Mas justamente estes textos são os que mais me agradam, pois neles escrevo sem compromisso, não sigo nenhuma regra. Os pensamentos vão aos poucos se tornando palavras e o final, pra mim, quase sempre é agradável. Um texto curto, quase sempre mal elaborado muitas vezes é o suficiente.

Muitas vezes penso em voltar atrás e mudar certas coisas. Mas o que seria de mim sem os erros e acertos do passado? Provavelmente não seria quem sou, e hoje me agrada ser o que sou. Agrada-me olhar para trás e perceber que por mais difíceis que sejam nossos caminhos eles são necessários. E tenho certeza que não fossem por eles não seria tão feliz quanto hoje sou.

Recentemente reli O Idiota, na minha opinião um dos melhores livros do Dostoievski. O autor definiu o personagem principal como uma mistura de D. Quixote com Jesus Cristo. O sentimento humanista, suas crises de epilepsia, em meio a tantos desencontros faz brotar o que seria o ser humano ideal. Não vou entrar em detalhes, pois quem não leu pode se interessar.

Citei este livro, pois o mesmo me faz repensar muitas coisas e algumas estão postas aqui.



sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Eduardo Galeano

Tenho muito a escrever. Mas enquanto desato os nós, fiquem com um dos meus autores favoritos em uma das coisas mais legais que vi, revi e revi esse ano.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Saudades...

Algumas coisas na vida são inevitáveis, dentre elas a morte, mas a maneira que lidamos com tais situações fazem muita diferença. No último texto do Sérgio ele conta o sonho que teve com um amigo que se matou, história triste. Sempre me pergunto se falta ou sobra coragem à quem se suicida. E este texto e mais uma conversa que tive com o Sérgio me motivou a escrever sobre algo que sempre evitei falar, mas que por algum motivo tem tomado boa parte de meus pensamentos.  

Nos últimos dias tenho pensado muito no pai que morreu há quase quinze anos. Lembro-me que nos primeiros dias, meses e até anos depois de sua morte pensava nele todos os dias, mas com o passar tempo as lembranças foram se apagando e tornando-se cada vez menos freqüente. Já não me lembro quando foi à última vez que lembrei seu aniversário, que pensei nele nos dias dos pais, ou qualquer outra data especial. Acho normal que com o decorrer da vida pensemos menos nas pessoas que perdemos, mas isso me causa uma sensação estranha, não é culpa, mas um que de ingratidão ou sei lá o que, enfim, não consigo explicar o que sinto.

Nunca vou esquecer o dia em tudo aconteceu. Não consigo expressar o que senti, mas uma das primeiras sensações que tive foi que até então havia um muro que me protegia de tudo e então o muro caiu e dali por diante estava exposto a tudo que pudesse me atingir.

Quando fecho os olhos e tento imaginar seu rosto percebo que o mesmo já não é mais tão nítido, e custa-me relembrá-lo. O tom da voz também se perdeu e não consigo mais ouvi-la, não sei se o reconheceria caso o encontrasse. Mesmo assim alguns detalhes estão vivos como nunca e acho que jamais se perderão. Lembro-me como se fosse hoje quando ele comprou um opala azul, com teto solar e foi buscar-me na escola... Aquele dia andamos por quase uma hora. O tempo todo eu ficava com a cabeça pra fora, sentindo o ar que vinha de encontro ao meu rosto, como se estivesse voando, sentia-me invencível, e ainda hoje sinto a sensação que aquele ar causava-me. Eu adorava aquele carro, na verdade não sei se gostava mais do carro ou do teto solar! Lembro das vezes que eu aprontava alguma coisa na escola, como minha mãe era muito brava e essas coisas sempre me custavam uma bela surra, recorria a ele. E então depois do trabalho ele ia me buscar. Uma bronca, bem dada e nada mais. Depois íamos ao bar do Mineiro, onde ele tomava sua cervejinha e eu uma garrafa de Crush. E então tudo se resolvia e minha mãe nem ficava sabendo o que aconteceu.

Hoje, depois de tanto tempo pergunto-me se minha vida seria diferente, caso estivesse aqui, conosco. Será que seriamos amigos como você sempre dizia que seriamos? Será que sentaríamos juntos para beber uma cerveja, exatamente do jeito que sempre me dizia que seria quando eu estivesse mais velho? Acredito que sim, aliás, não tenho por que pensar que as coisas seriam diferentes do que sempre me disse. Gostaria muito de saber se você se orgulharia em ver o homem que me tornei, se era isso que esperava e se consegui superar as expectativas, mas isso fica para outro momento.

Tenho certeza que um dia nos reencontraremos e seja lá qual for esse dia, ele chegará. Até lá tentarei manter vivo em minha memória tudo que passamos juntos, para que possamos sempre estar alinhados em nossos pensamentos e assim tornar menos dolorosa a falta que um faz ao outro.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Minha Fé


Há algum tempo venho ensaiando escrever algo sobre o que penso a respeito das religiões, mas como não sabia bem ao certo como e o que escrever sempre adiei esta publicação e o rascunho deste texto permaneceu guardado no METAMORFOSE por muito tempo, se bem que de lá para cá muitas coisas mudaram, inclusive minha opinião. E hoje confesso: por mais que tente não consigo chegar a uma conclusão sustentável, muitas das dúvidas do passado são as mesmas do presente, mas com algumas ressalvas.

Todas as vezes que debato tal assunto me faltam argumentos para expor o que penso e quase sempre desisto de convencer e coloco-me a ouvir. Provavelmente jamais chegaremos a um consenso e talvez nunca tenhamos certeza de coisa alguma, melhor assim. Quiçá, como proposto por Auguste Comte, o melhor seja a criação de uma religião universal, única para toda a humanidade. Acredito que tal idéia seja compartilhada por muitos, mas não por mim. Para mim religião perfeita é aquela que lhe faz bem, independente do que seja pregado. E além do mais muitas das pessoas que conheço são felizes sem crer em nada disso.

Não consigo enxergar outra finalidade para as religiões senão como uma ponte usada pelos homens na busca da felicidade, paz de espírito e tudo mais que procuramos e quase sempre não encontramos. O problema é que na maioria das vezes mal sabemos o que procuramos e talvez este seja um dos motivos para tantas dúvidas. Parece que nos dias de hoje muitas das coisas que realmente importam ficaram de lado e a maior parte das pessoas valorizam somente o que é material, sempre deixando de lado coisas como sentimento, caráter e outras mais.

No fim percebo que mesmo com seus aspectos positivos e negativos sem elas o mundo provavelmente seria um caos. Sim, pois se não existisse o medo do pós-morte, das punições pregadas por muitos profetas e a incerteza do que iremos encontrar, as coisas seriam muito mais complicadas e as pessoas seriam muito piores do que são.



Renata, ávida comentarista do METAMORFOSE colaborou neste texto.   

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Um Sonho

O interessante é que a gente fica um tempão sem escrever aqui. Aí o Paulo atualiza e eu resolvo colocar um post em cima. Mas é que preciso escrever, senão esqueço e fica perdido para sempre. Outro dia um amigo - que não lembro qual - falou uma frase que achei bacana. Aí, elogiei. E ele disse que era minha mesmo. Ainda bem que elogiei.

Mas não era sobre isso que eu queria falar. Eu comecei a escrever aqui várias vezes desde o último post, mas acabei apagando os rascunhos. Ia avisar que estava tudo bem, que aquela história que narrei teve um final muito, muito, muito feliz. Tanto pra mim como, principalmente, para o PC. Ia também postar umas coisas que alguns amigos indicaram nos comentários deste blog, como o texto da Vanessa sobre cabala ou um que o Fábio indicou, de uns mandamentos indianos. Pensei em postar aqui o "Tudo passa", do Caio Fernando Abreu. Mas não saiu nada decente.

Aí hoje de manhã acordei muito feliz. Muito mesmo. Aliás, tive uma manhã muito bonita. De manhãzinha, sonhei com um conhecido meu que se matou há alguns anos. A morte dele me chocou bastante na época. Tanto que de lá para cá, sonhei com ele frequentemente. Esse negócio de suicídio não é algo que eu lide bem, já percebi. Acho que aos poucos vou tentando me conhecer melhor para reagir melhor a esse assunto, mas até agora tenho fracassado com louvor.

E é um assunto que me rodeia - se bem que acredito que boa parte das pessoas conhece ou conheceu alguém que tentou se matar. Não sei. Esse conhecido - que era uma pessoa que tinha um jeito que me irritava até - é a segunda pessoa que conheci que se matou. Tive um tio próximo que se suicidou também, mas como eu era criança na época, não fiquei tão impressionado como nesse segundo caso.

Pois bem, sonhei que eu encontrava ele e a gente se abraçava muito. Ele estava grisalho. Não mais velho em termos de feições, mas tinha um cabelo acinzentado. E a gente se abraçava, com uma alegria incrível. A qual nunca tivemos - e nem essa proximidade, embora eu tenha trabalhado 5 anos, quase vizinho de baia dele - quando ele vivia. Bom, então ele me disse "você jogou parte da sua vida fora, assim como fiz com a minha".

Em outro tempos, eu ficaria preocupado. Ou acordaria pensativo. Sei que acordei tão bem, tão feliz, que, mesmo não sabendo o que isso signifique, acredito que finalmente ele está em paz. Ele exalava paz no sonho. Sobre a frase, já me arriscaram fizer que no fundo é o que eu mesmo penso da minha vida. Pode ser. Acho que até é - se eu me arrependo de muitas coisas, acredito que essas coisas foram partes da minha vida que joguei no lixo. Sei bem que aprendemos com os erros, com as experiências e com tudo. E o que tem que acontecer acontece coisa e tal. Não vou discorrer sobre isso agora, porque vai fugir do assunto principal, que é a minha manhã.

Bom, de volta ao sonho. Pode ser uma mensagem do subconsciente. E pode ser só isso. Mas pode não ser só isso. Ou pode não ser nada disso. Não consigo definir o que foi, mas penso que de alguma forma eu encontrei com esse conhecido essa noite. E que ele veio me dizer que está bem - logo depois que ele morreu, periodicamente, eu pedia mensagens sobre ele no plano espiritual. Se não me engano, na primeira, a resposta foi a pior possível: que ele, seu espírito, ainda estava dentro do caixão.

Mas vou deixar de lado essa história. Porque acordei muito feliz com esse reencontro e fui para o EscreveCartas. Esse meu post tá parecendo um "Querido diário", mas queria registrar algumas histórias. A Camila me disse umas vezes que acha que quem faz serviço voluntário são pessoas boazinhas de tudo e coisa assim. E o que eu respondi pra ela é que são pessoas normais, que estão disponíveis e dedicam um tempo para, no fundo no fundo, se ajudar.

No EscreveCartas, ouvi uma história muito interessante sobre uma reconciliação de família, que acho que não posso detalhar aqui. Bom, daí fiz uns 4 ou 5 currículos. E todas, todas as pessoas que atendi queriam porque queriam me pagar alguma coisa pela feitura deles. Normalmente é "posso te pagar um cafezinho?" Eu já nem sei receber elogio ou agradecimento direito (fico sem graça, me embanano todo pra agradecer, entre outras coisas), mas quando acontece nessa situações, repito, emociona. Isso sempre acontece e sempre me emociona. As pessoas estão em tal situação que precisam de um serviço gratuito para fazer seu currículo. E mesmo assim, quando terminamos o serviço, querem dar um agrado.

Ver a gratidão por um negócio tão simples - para afortunados como eu, claro - é algo que reconforta muito e faz qualquer um começar bem o dia. E não tem cafézinho que pague esse tipo de coisa.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Delírio

O mundo parece ser feito para os que nada sentem. Quisera eu dedicar toda minha vida para ensinar as pessoas a não sentirem, pois quem não sente vive. Mas ensinar alguma coisa? Eu que não sei quem sou, que nem ao menos sei o que quero, não...

 Há tempos que não tenho prazer em escrever, pois todas às vezes tenciono fazê-lo penso em todas as frases que gostaria de criar e sei que jamais criarei e isso me faz penar. Sinto-me inútil. A sensação que tenho é que falhei em tudo. Passei a vida toda tentando ser que eu não era e agora, passado todos esses anos a máscara caiu e tudo que consigo sentir é medo, medo de encarar a realidade e seguir, mas seguirei exatamente assim, pois se for para ser quem não sou é melhor estar morto!

Estou estagnado. Para onde quer que olhe não encontro saída nem justificativa plausível para tais palavras. Cultivo em minha alma os mais vis dos sentimentos e sei com toda certeza que em hipótese alguma ofereceria a outra face em troca da salvação da humanidade. Talvez a saída seja seguir os passos de Fausto, é tão difícil encontrar que não queira vender a alma ao Diabo!

Reconhecer e aceitar a realidade, eis ai algo que não admito, pois tudo muda, “só não muda o que está morto”.