sexta-feira, 25 de março de 2011

Desprendimento

Há alguns dias resolvi arrumar algumas coisas e me surpreendi com a quantidade de roupas, papéis, e outros objetos que não serviam pra nada. E olha que nem tenho tantas coisas assim, porém, tenho a impressão de que tenho muito mais do que preciso para viver.

Resolvi doar a maior parte de todas aquelas bugigangas, e o que nem pra isso servia, decidi jogar fora. Mesmo sabendo que nada daquilo teria utilidade, por um momento, hesitei. Quase coloquei tudo onde estava. Sem saber porque, fiquei procurando utilidade para tantas velharias, e o pior, sempre encontrava. A blusa velha com furo poderia servir para dormir, todo aquele monte de propaganda de produtos poderia ter alguma informação útil, e até as canetas que não pegavam poderiam em um passe de mágicas voltarem a escrever, ou seja, surgiram milhares de hipóteses para justificar a estada de tudo aquilo. Um sentimento bem egoísta tomou conta de mim, mas isso não durou muito. Já conheci pessoas que mal tinham o que comer e ainda penso assim.

Uma vez alguém disse que deveria me preocupar mais com a maneira como me apresento à sociedade. Escolher melhor as roupas que uso, sempre estar de barba feita, cabelo cortado e toda aquela baboseira que sabemos de cor e salteado. Claro que não dá para ser hipócrita e pensar que tudo isso não tem importância, mas sempre me pergunto o que é mais importante, afinal de contas, o fruto ou a casca?

Nos últimos meses tenho lido com ferquência o Bhagavad-gita. Ao folhar as páginas tentando compreender o sentido dos versos, percebo como é difícil desprendermo-nos das coisas, principalmente as materiais. Não acredito que seja egoísmo, propriamente dito, mas não sei porque damos tanto valor ao que não nos serve de nada.

segunda-feira, 21 de março de 2011

A Paz

Há uma semana, eu estava angustiado, triste, com diversos pensamentos em redemoinho em minha cabeça. Eu sabia que era tudo, baiscamente, proveniente de excessos do carnaval - incluindo aí o álcool, que é depressor -, o cansaço acumulado, algumas noites mal dormidas por conta de plantões seguidos madrugada adentro. Em resumo, esgotamento físico, mental, espiritual.

Mas o tempo passa, as coisas vão passando com ele e, de repente, acordo bem. Sempre acontece isso e nessa segunda-feira acordei muito bem. Até me surpreendi com isso. Feliz mesmo. O descanso do final de semana e encontrar pessoas queridas sempre ajuda muito. Ontem ainda estava cansado, mas já não estava mais desanimado. Hoje, volto a estar 100%. Agradeço a todos que se preocuparam e, como disse uma pessoa querida, "estranho seria se a gente nunca tivesse fases ruins".

Bom, aí, feito esse preâmbulo, estive pensando hoje sobre um negócio que tem, aparentemente, incomodado algumas pessoas que conheço. É o lance do ganhar bem x trabalho ruim. Ou vice-versa. O Alex falou disso uns posts atrás. Eu mesmo demorei a encontrar um lugar que equilibrasse as coisas. Ou trabalhei em empresas em que o trabalho era excelente e o clima ótimo, mas que não pagava bem, quando pagava. Ou trabalhei em empresas em que tudo era um porre, mas pagavam muito bem e muito em dia.

E aí vamos chegando - e passando - dos 30 anos e ficamos com aquelas dúvidas na cabeça. A escolha de um trabalho chato, mas que garanta um bom futuro e uma certa estabilidade é o alvo de muitas pessoas. Mas quando elas chegam a isso - exemplo, funcionalismo público - ficam com dúvidas se realmente querem estabilidade, um bom salário e um trabalho boçal pelo resto de suas vidas.

Minha escolha foi a do negócio próprio. E já faz tempo. Tem sido duro e prazeroso. Uma das pessoas que mais admiro, uma das mais corajosas que conheço, que já foi minha sócia, inclusive (oi, Renata!), também escolheu essa via e, pelo que tenho percebido, está na mesma perspectiva do que eu: muito trabalho, muito sufoco e bastante recompensa pessoal e profissional. Nunca é fácil se livrar das amarras. E, com isso, não estou dizendo que é certo ou errado abandonar uma carreira em prol do trabalho gratificante ou pensar no pagamento e viver um dia a dia horroroso.

Acredito piamente que cada um encontra seu caminho. E que cada um sabe o que é melhor para si. O que muitas pessoas acham "loucura" ou "idiotice", tento compreender sem adjetivos. É assim e pronto. As coisas são da forma que olhamos para elas. E ninguém sabe como é a jornada do outro.

Mas digo isso porque hoje lia um livro sobre psicoterapia (Tornar-se pessoa, do Carl Rogers), e ele conta uma experiência com macacos recém nascidos, feita não sei quando e não sei bem onde. O fato é que pegaram alguns macacos bebês, os separaram das mães por alguns dias. No lugar das mães, colocaram duas mães falsas. Uma estrutura de ferro e arame, dura, que mantinha uma teta com leite. Era a "mãe dura". A outra era uma estrutura macia, malemolente, bastante flexionável, que era a "mãe mole".

O que se viu foi que, apesar da "mãe dura" ter o alimento dos macaquinhos, eles se apegaram mais à "mãe mole", procurando se encaixar no seu colo e coisas assim. Eventualmente, quando colocavam objetos estranhos na jaula, para assustar os bichinhos, eles procuravam abrigo e proteção na 'mãe mole". É um instinto primitivo que mostra que, nos macacos, a recompensa está relegada à segundo plano em relação ao calor e ao afeto.

O que isso quer dizer? Bom, no livro tem alguns caminhos que o autor explora, mas acredito que cada um pode tirar a lição que mais lhe aprouver isso - se é que há uma.


quarta-feira, 16 de março de 2011

Sobre a Transitoriedade das Coisas

Faz tempo que quero escrever aqui sobre a transitoriedade das coisas.

De como tudo passa e de como nós - no caso eu - temos a mania de acreditar que tudo é para sempre. Pensando friamente, no fundo, sei que tudo são fases.

Mas é que é muito difícil superá-las, mesmo sabendo que no futuro tudo mudará.

Digo isso porque pela minha cabeça passa um turbilhão de pensamentos, que não consigo desatar. Por mais que tente. Fazia tempo que não me sentia assim, meio inquieto e confuso, basicamente sem qualquer motivo específico. Mas quando os sentimentos falam, não é necessário um motivo. Eles estão lá, mas não estou preocupados com eles - eles vem e vão. E será assim por toda a minha vida. Estou preocupados com o que sinto.

Aliás, tem-se a mania de dar valor ao que fazemos e ao que somos, nunca ao que sentimos. Espera-se que estejamos bem. Torce-se para isso até. Tanto que o cumprimento mais comum é "oi, tudo bem?". Dificilmente é o "como você está?". Porque sentimentos são relegados a um terceiro plano, normalmente.

Penso que o que fazemos e o que somos é fruto do que sentimos. Na verdade é um tripé em que o que fazemos e o que sentimos resulta no que somos. De qualquer forma, deveria-se dar mais espaço aos sentimentos. Uma reação exacerbada, ou menos inflamada tem sempre a ver com o que se sente. Atos e impulsos, que atropelam ciclistas ou que deixam escapar pequenos "eu te amo" em uma manhã qualquer, são frutos do que sentimos e de como lidamos com nossos sentimentos.

Por isso discordo de afirmações como "você tá chorando? que bobagem!" ou "nossa, que tonto, ainda gosta dela". Acredito que todo sentimento deveria ser validado. Assim como acho que podemos olhar para dentro e trabalhar melhor com eles e, por conseguinte, conosco mesmos e, por mais conseguinte ainda, com os outros. Porque no fundo tudo são relações humanas. E, menos no fundo ainda, somos todos semelhantes.

Me dou bem comigo, me dou melhor com quem está ao meu redor.

Simples assim? Não é tanto. Acho que é um pouco de exercício diário, que começa com o olhar para dentro. E assim, quem sabe, as pessoas no mundo possam dia após dia atropelar menos ciclistas e dizer mais eu te amo.

(PS1. Lá no começo eu queria falar sobre a transitoriedade das coisas. Desisti. Porque até os assuntos são transitórios. E tudo vai passar. Não hoje, não amanhã, mas... bom, o Caio Fernando Abreu sabe quando.)

(PS2. Paulão, desculpe postar sobre seu texto, mas estava precisando escrever.)

Pequenas coisas

Desde que começamos o blog, eu, Sérgio e agora o Alex, cada um à sua maneira, procurou expor de maneira simples o que sente em relação às mudanças de nossas vidas, e assim procuramos demonstrar das mais variadas formas os sentimentos aos mais estranhos temas. Em momento algum pré estabelecemos o que seria escrito. Tudo surgiu naturalmente e isso torna o espaço bem agradável e democrático. Relendo alguns textos percebi como hoje estamos mais a vontade para falarmos de nós mesmos, independente do assunto tratado. Bom, isso não tem nada a ver com o que ia escrever, mas achei justo de nota.

Sempre acreditei que simples ações geram grandes mudanças, porém, até hoje, nunca as valorizei como deveria. A mania que tenho em não me preocupar com o que parece não ter muita importância, geralmente, causa-me grandes problemas, e na maioria das vezes estes poderiam ser resolvidos sem grandes transtornos. Quase sempre deixo tudo pra última hora, e o que era insignificante torna-se um tormento. O pior é que sempre prometo que nas próximas vezes tudo será diferente, mas como pode-se imaginar, isso nunca muda. Não é possível, que depois de trinta anos, de ter perdido metade dos cabelos que tinha as coisas não mudem. Se continuo errando, é porque não aprendi. Sei que o caminho vai ser longo, não só em relação á isso, mas em tantas outras coisas.

Enfim, sinto que reconhecer os erros já é um grande progresso, pelo menos penso assim. Sei que muitas coisas nunca vão mudar e ponto.  O que tento fazer é aprender a lidar melhor com tais situações, sempre tentando minimizar ao máximo as conseqüências dos meus atos.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Inconstância das coisas

Agora, sempre ao começar escrever abro a janela do meu quarto. Como consigo em um espaço tão pequeno criar meu próprio mundo? Vejo o céu e percebo que há algo que nunca enxerguei. Na verdade nunca reparei no céu como deveria. Olho e vejo como são engraçadas as estrelas quando reparamos mais detalhadamente para elas, um infinito de formas são criadas e tudo de acordo com meu pensamento. Num piscar de olhos criamos um mundo só nosso. A brisa é agradável, gosto dela, traz uma sensação boa que parece purificar a alma. E tudo isso me faz pensar como sou desatento aos mais simples detalhes da vida, muitas vezes o simples parece fazer toda diferença.

  Os sonhos que tenho são os mesmos de tantos que não pode haver no mundo lugar para tantas realizações.

Ao mesmo tempo em que inicio este texto centenas, ou porque não outros milhares, estarão sendo escritos. Muitos jamais serão lidos e isso não quer dizer que sejam melhores ou piores. Alguns serão esquecidos, assim como seus autores e com o passar dos dias não só os textos e autores, mas o lugar onde tudo isso se deu. Como tudo na vida estão fadados ao esquecimento. Impressiona e assusta a velocidade com que as coisas se deterioram. Não há como ser diferente, é a lei da vida, tudo que nasce um dia morre. Isso me faz lembrar como as coisas são inconstantes, como a vida passa por entres os dedos num instante e o que é vivo hoje, amanhã é pó.