segunda-feira, 21 de março de 2011

A Paz

Há uma semana, eu estava angustiado, triste, com diversos pensamentos em redemoinho em minha cabeça. Eu sabia que era tudo, baiscamente, proveniente de excessos do carnaval - incluindo aí o álcool, que é depressor -, o cansaço acumulado, algumas noites mal dormidas por conta de plantões seguidos madrugada adentro. Em resumo, esgotamento físico, mental, espiritual.

Mas o tempo passa, as coisas vão passando com ele e, de repente, acordo bem. Sempre acontece isso e nessa segunda-feira acordei muito bem. Até me surpreendi com isso. Feliz mesmo. O descanso do final de semana e encontrar pessoas queridas sempre ajuda muito. Ontem ainda estava cansado, mas já não estava mais desanimado. Hoje, volto a estar 100%. Agradeço a todos que se preocuparam e, como disse uma pessoa querida, "estranho seria se a gente nunca tivesse fases ruins".

Bom, aí, feito esse preâmbulo, estive pensando hoje sobre um negócio que tem, aparentemente, incomodado algumas pessoas que conheço. É o lance do ganhar bem x trabalho ruim. Ou vice-versa. O Alex falou disso uns posts atrás. Eu mesmo demorei a encontrar um lugar que equilibrasse as coisas. Ou trabalhei em empresas em que o trabalho era excelente e o clima ótimo, mas que não pagava bem, quando pagava. Ou trabalhei em empresas em que tudo era um porre, mas pagavam muito bem e muito em dia.

E aí vamos chegando - e passando - dos 30 anos e ficamos com aquelas dúvidas na cabeça. A escolha de um trabalho chato, mas que garanta um bom futuro e uma certa estabilidade é o alvo de muitas pessoas. Mas quando elas chegam a isso - exemplo, funcionalismo público - ficam com dúvidas se realmente querem estabilidade, um bom salário e um trabalho boçal pelo resto de suas vidas.

Minha escolha foi a do negócio próprio. E já faz tempo. Tem sido duro e prazeroso. Uma das pessoas que mais admiro, uma das mais corajosas que conheço, que já foi minha sócia, inclusive (oi, Renata!), também escolheu essa via e, pelo que tenho percebido, está na mesma perspectiva do que eu: muito trabalho, muito sufoco e bastante recompensa pessoal e profissional. Nunca é fácil se livrar das amarras. E, com isso, não estou dizendo que é certo ou errado abandonar uma carreira em prol do trabalho gratificante ou pensar no pagamento e viver um dia a dia horroroso.

Acredito piamente que cada um encontra seu caminho. E que cada um sabe o que é melhor para si. O que muitas pessoas acham "loucura" ou "idiotice", tento compreender sem adjetivos. É assim e pronto. As coisas são da forma que olhamos para elas. E ninguém sabe como é a jornada do outro.

Mas digo isso porque hoje lia um livro sobre psicoterapia (Tornar-se pessoa, do Carl Rogers), e ele conta uma experiência com macacos recém nascidos, feita não sei quando e não sei bem onde. O fato é que pegaram alguns macacos bebês, os separaram das mães por alguns dias. No lugar das mães, colocaram duas mães falsas. Uma estrutura de ferro e arame, dura, que mantinha uma teta com leite. Era a "mãe dura". A outra era uma estrutura macia, malemolente, bastante flexionável, que era a "mãe mole".

O que se viu foi que, apesar da "mãe dura" ter o alimento dos macaquinhos, eles se apegaram mais à "mãe mole", procurando se encaixar no seu colo e coisas assim. Eventualmente, quando colocavam objetos estranhos na jaula, para assustar os bichinhos, eles procuravam abrigo e proteção na 'mãe mole". É um instinto primitivo que mostra que, nos macacos, a recompensa está relegada à segundo plano em relação ao calor e ao afeto.

O que isso quer dizer? Bom, no livro tem alguns caminhos que o autor explora, mas acredito que cada um pode tirar a lição que mais lhe aprouver isso - se é que há uma.


5 comentários:

  1. também já pensei muito nesse negócio de trampo e fico com a frase do seu madruga: "não existe trabalho ruim, o ruim é ter de trabalhar".
    já sobre o lance dos macacos, acho bem melhor uma mãe-mole do que um pai duro. O que isso quer dizer? Bom, acredito que cada um pode tirar a lição que mais lhe aprouver isso - se é que há uma.

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  2. oi, Sé!!! olha, a recíproca é mais do que verdadeira: também te admiro demais e te acho mega corajoso!!!

    esse negócio de trabalho x prazer é tão, mas tão complicado... quando temos chefe e um trabalho mais burocrático parece que nos entregamos mais do que quando estamos cuidando do nosso próprio negócio. pelo menos tô vendo as coisas dessa maneira nesse momento. e esse era justamente o momento de ser tudo ao contrário!!!

    de qualquer forma (e apesar de tudo), pra mim, hoje, não existe nada melhor do que poder levar a minha vida do jeito q eu quiser. hoje eu sou responsável pelas minhas escolhas, pela minha rotina... estou no comando e isso tem sido uma lição e tanto.

    o resto a gente vai dando um jeito.

    beijo grande

    ah, e bom saber que você está melhor!!!

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  3. Parabéns Buchabik e Rê, aliás, mais do que dar felicitações, é o orgulho que vocês possuem do vossos trabalhos, e isso ninguém tira de vocês.

    Aliás, pensando bem, todos estão de parabéns, mesmo aqueles que não possuem um bom trabalho e vivem a luta diária de conviver com o desanimo.

    Não existe certo e errado, competentes e incompetentes. Apenas o árduo trabalho de viver todo dia.


    Plano Mecenas 20XX.

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  4. Tem uma coisa que eu sempre digo para os meus colegas aonde eu trabalho, muitas vezes o dinheiro não compra a felicidade e o prazer de fazer algo que gostamos, nunca me prendi a isso, já saí de lugares aonde eu ganhava bem, tinha certa estabilidade para ganhar menos mas fazer algo que eu gostava e assim fui conquistando meu espaço aos poucos.

    Fico muito feliz em saber que está bem!

    Bjs

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  5. Acho que se encaixa...

    "Ou se tem chuva e não se tem sol
    ou se tem sol e não se tem chuva!
    Ou se calça a luva e não se põe o anel,
    ou se põe o anel e não se calça a luva!

    Quem sobe nos ares não fica no chão,
    quem fica no chão não sobe nos ares.
    É uma grande pena que não se possa estar
    ao mesmo tempo nos dois lugares!

    Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
    ou compro o doce e gasto o dinheiro.
    Ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo...
    e vivo escolhendo o dia inteiro!

    Não sei se brinco, não sei se estudo,
    se saio correndo ou fico tranquilo.
    Mas não consegui entender ainda
    qual é melhor: se é isto ou aquilo."

    Cecilia Meireles

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