segunda-feira, 6 de junho de 2011

A lua do Rogéria

Quando eu saí do Querubim, para fumar um cigarro ao cair da tarde, o Rogéria pediu para eu reparar na lua. Eu gosto muito de vê-la, mas nunca lembro-me de observá-la. Disse isso a ele e pensei o quanto fico feliz quando pessoas me apontam coisas agradáveis que não percebo de antemão. Mais do que gostar que as pessoas concordem ou discordem de mim, me elogiem ou agradeçam, me agradam aquelas que me mostram novidades. Ou coisas sob novas perspectivas. Ou, ainda, coisas que eu já sei, mas que nem sempre lembro - como é o caso de olhar a lua.

O Rogéria é uma das pessoas que mais se parece comigo que conheço - eu costumo dizer isso com frequência. Ele, por ser parecido comigo, também. E ele é uma das pessoas que mais admiro no mundo - não por sermos parecidos, obviamente.

Ele segue seus sonhos, sendo guiado mais pelo coração do que por qualquer outra parte do corpo (como se o coração ficasse dentro do corpo). Se os alcança ou não, é o menor dos pontos - só faz gol quem chuta. Sempre que me pedem conselhos ou opinião, a bem da verdade é que quase nunca eu sei o que dizer. Nunca tenho opinião formada sobre as coisas e acho que cada um tem a capacidade e o direito de decidir sobre sua vida. Mas, de forma geral, se pudesse aconselhar algo seria "siga seu sonho."

O fato dele personificar isso que penso é um dos motivos da admiração. Mas há vários outros: ele coloca em prática com muito mais naturalidade e resultados o que tento há tempos, com esforço diário: o respeito, a alteridade, o não julgamento, uma não diretividade toda própria também. Mas ele também admira a lua, coisa que nunca me lembro e sempre esqueço que gosto.

No dia seguinte ao Querubim, levando-me ao aeroporto, Rogéria lembrou o que eu havia dito e repetiu. "Olha a lua, que bonita". Eu tentei olhar, mas como estava espremido no banco de trás com mais três pessoas (felizmente espremido por alguns dos meus melhores amigos), foi praticamente impossível olhar pela janela.

De qualquer forma, ainda estava visualizando o quadro na parede da sala da casa do Rogéria.

Casa construída também com os próprios braços em Floripa - mas também com muitas lágrimas felizes e tristes, muito suor, muita BR-116, e mais ainda a vontade de alcançar um sonho.

Relembro tudo e vejo que depois de largar o emprego em SP e sair do apto de dividia comigo em finais de 2006, ele se fixou em definitivo (tão definitivamente quanto pode ser qualquer coisa na vida de uma pessoa com a alma solta, um coração enorme e a vontade de viver de poucos) na capital catarinense.


"Follow your dreams", eu repito.

"Olha a lua, Bucha", diz Rogéria. E sorri.