quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Saudades...

Algumas coisas na vida são inevitáveis, dentre elas a morte, mas a maneira que lidamos com tais situações fazem muita diferença. No último texto do Sérgio ele conta o sonho que teve com um amigo que se matou, história triste. Sempre me pergunto se falta ou sobra coragem à quem se suicida. E este texto e mais uma conversa que tive com o Sérgio me motivou a escrever sobre algo que sempre evitei falar, mas que por algum motivo tem tomado boa parte de meus pensamentos.  

Nos últimos dias tenho pensado muito no pai que morreu há quase quinze anos. Lembro-me que nos primeiros dias, meses e até anos depois de sua morte pensava nele todos os dias, mas com o passar tempo as lembranças foram se apagando e tornando-se cada vez menos freqüente. Já não me lembro quando foi à última vez que lembrei seu aniversário, que pensei nele nos dias dos pais, ou qualquer outra data especial. Acho normal que com o decorrer da vida pensemos menos nas pessoas que perdemos, mas isso me causa uma sensação estranha, não é culpa, mas um que de ingratidão ou sei lá o que, enfim, não consigo explicar o que sinto.

Nunca vou esquecer o dia em tudo aconteceu. Não consigo expressar o que senti, mas uma das primeiras sensações que tive foi que até então havia um muro que me protegia de tudo e então o muro caiu e dali por diante estava exposto a tudo que pudesse me atingir.

Quando fecho os olhos e tento imaginar seu rosto percebo que o mesmo já não é mais tão nítido, e custa-me relembrá-lo. O tom da voz também se perdeu e não consigo mais ouvi-la, não sei se o reconheceria caso o encontrasse. Mesmo assim alguns detalhes estão vivos como nunca e acho que jamais se perderão. Lembro-me como se fosse hoje quando ele comprou um opala azul, com teto solar e foi buscar-me na escola... Aquele dia andamos por quase uma hora. O tempo todo eu ficava com a cabeça pra fora, sentindo o ar que vinha de encontro ao meu rosto, como se estivesse voando, sentia-me invencível, e ainda hoje sinto a sensação que aquele ar causava-me. Eu adorava aquele carro, na verdade não sei se gostava mais do carro ou do teto solar! Lembro das vezes que eu aprontava alguma coisa na escola, como minha mãe era muito brava e essas coisas sempre me custavam uma bela surra, recorria a ele. E então depois do trabalho ele ia me buscar. Uma bronca, bem dada e nada mais. Depois íamos ao bar do Mineiro, onde ele tomava sua cervejinha e eu uma garrafa de Crush. E então tudo se resolvia e minha mãe nem ficava sabendo o que aconteceu.

Hoje, depois de tanto tempo pergunto-me se minha vida seria diferente, caso estivesse aqui, conosco. Será que seriamos amigos como você sempre dizia que seriamos? Será que sentaríamos juntos para beber uma cerveja, exatamente do jeito que sempre me dizia que seria quando eu estivesse mais velho? Acredito que sim, aliás, não tenho por que pensar que as coisas seriam diferentes do que sempre me disse. Gostaria muito de saber se você se orgulharia em ver o homem que me tornei, se era isso que esperava e se consegui superar as expectativas, mas isso fica para outro momento.

Tenho certeza que um dia nos reencontraremos e seja lá qual for esse dia, ele chegará. Até lá tentarei manter vivo em minha memória tudo que passamos juntos, para que possamos sempre estar alinhados em nossos pensamentos e assim tornar menos dolorosa a falta que um faz ao outro.

10 comentários:

  1. Muito sensível!
    Fiquei emocionada!!!

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  2. Claro que ele iria se orgulhar, ele fez parte da formação do homem que você é. E o resultado foi bom. Lindo seu texto e mais ainda a sua história.

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  3. Sem dúvida, o post mais emocionante que já li aqui. Chegou a escorrer uma lágrima, confesso.

    Não sei o quanto seu pai teve influência na sua personalidade, Paulão, mas o resultado foi excelente. Muito ou pouco, ele fez um excelente trabalho. :)

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  4. Obrigado, Anonimo! Acho que o resultado e mais ou menos. Rs.

    Bucha, obrigado pelo comentario. Sem duvida a influencia foi enorme!

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  5. Pois é, perder alguém que se ama é mto difícil e doloroso e com o passar do tempo só o que fica são boas lembranças.
    Fico pensando qdo esse dia chegar para mim, se eu vou conseguir ser forte...
    Como disse o Bucha, emocionante, lindo e sincero, cada palavra e com certeza seu pai aonde ele estiver deve sentir orgulho do que vc se tornou.

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  6. Uma lágrima? Meu Deus, estou aos prantos!
    A julgar pelo seu sentimento nas palavras escritas, na saudade postada, acredito que ele tem muito do que se orgulhar!
    Parabéns
    Bjs

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  7. Ei Paulo, esqueci de te dizer uma coisa: Muito obrigada!

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  8. aaahaha saudades nao é facil..eu tbem sinto falta de um tempo q nunca mais volta... de pessoas, lugares q morei e amores q nao foram bem sucedidos...
    beijossss

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