quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Longa Caminhada

Poucas coisas me deixam mais incomodado do que ir dormir brigado com alguém. Sempre penso que posso morrer à noite e não terei a chance de fazer as pazes. Acho que minha tia, minha mãe ou alguma das minhas irmãs me falou isso quando eu era criança e nunca mais esqueci. Daí, sempre tento fazer as pazes o quanto antes, dar dedinho e tudo mais. Na verdade, sempre tento mesmo é não aborrecer os outros, mas isso não é fácil. Podemos magoar quando não temos ideia do que estamos fazendo.

E isso porque o que é bom para mim nem sempre o é para você. Nunca se sabe como a pessoa acordou aquele dia, qual foi a formação dela, quais os problemas dela. Assim, o que uns consideram "bobo", "frescura" e assemelhados, é coisa séria para outros. Quem decide com o que pode e com o que não pode se ofender?

(Antes que pensem, não me ofendi com ninguém e, espero, não ter machucado ninguém nesses últimos tempos. Em resumo: não é esse o motivo do meu post.)

Nesse ponto, até mesmo o preceito "não fazer para os outros o que não queremos que façam para a gente" perde um pouco do valor. É um começo e se a pessoa seguir corretamente, obviamente, será melhor. Assim como quem segue à risca dos 10 mandamentos - o PC me contou de um programa que ele viu que o cidadão passou uns meses seguindo a coisa toda de Moisés à risca e, no final das contas, percebeu que havia melhorado muito.

Eu acho que quem decide o que pode e o que não pode com o outro é o próprio outro. E não nós mesmos. Nós podemos decidir sobre nós, impor limites, essas coisas. Direito de se ofender, todos temos.

E isso que discorro aqui entra justamente na questão do não julgar. Um dos caminhos espinhosos que tenho de percorrer antes de chegar ao objetivo de não julgar ninguém é não medir as pessoas com a minha régua. E como medir os outros com as réguas deles? Se tiver um modo de fazer isso, melhor. Se não, simplesmente - e esse simplesmente é uma coisa e tanto - não medir pode resolver.

Mudando completamente de assunto, outro dia a Leandra comentou aqui que não falei que era sempre bom encontrá-la. Falei da Rogéria, mas é sempre bom encontrar amigos queridos (Leandra inclusa) que não vejo há tempos. Quando o convívio fica mais intenso, não se tem a felicidade de encontrar a pessoa que não se vê há muito tempo - e perde-se o encanto. Conviver é maravilhoso, mas muito difícil.

Falando em conviver, no sábado eu e Paulo demos uma mancada com a Leandra. Saímos da casa dela sem avisar e isso nos preocupou muito. Ensaiamos ligar para ela, para nos desculpar, várias vezes. Acabou que passou o tempo e desencanei. Para diminuir minha preocupação, conclui que não era motivo de se chatear e que amigos deixam passar coisas desse tipo. Aí, agora, percebi que ao "concluir que não era motivo de se chatear e que amigos deixam passar coisas desse tipo" o estava medindo com minha régua.

Vai ser uma longa caminhada.

7 comentários:

  1. Perfeito, simplesmente perfeito!
    Acho o máximo quando encontramos palavras que se encaixam no que estamos sentindo naquele exato momento.

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  2. Valeu anônimo. Eu também acho o mesmo - e não estou me referindo ao meu texto.

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  3. Pode ficar tranquilo, Sé. Te conheço o suficiente para não estranhar o fato de você (e o Paulão) terem saído sem me avisar. Sabia que vocês estavam bem, e, depois, o Costela me contou da carona. Da próxima, pro via das dúvidas, deixem um bilhete. Só, por favor, não com batom no espelho do baneheiro.
    Sobre não julgar, bem, em primeira análise, acho impossível. No máximo, conseguimos esconder julgamentos. Mas, se você (ou qualquer um) conseguir e puder passar a receita, eu (e a raça humana) agradecemos. :-)

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  4. Seria mto bom se todo mundo pensasse e agisse da mesma forma....

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  5. Concordo com o anônimo, Leandra e Carol!

    Muito bom, Buchabick!

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  6. Bom, já te seguia no 2x1, com os textos mais engraçados que tenho lido ultimamente. A temática por aqui, é bem diferente; muito mais pessoal, percebe-se. Gostei muito do texto, e da percepção de que não adianta tentar medir os outros por régua nenhuma, nem a sua, nem a do outro. É suficiente não medir, mas difícil conseguir praticar essa teoria. Vai tentando, que uma hora chega lá!

    Gostei muito =)

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  7. Valeu pessoal.

    Heloísa, esse negócio de texto reflexivo é novidade para mim também. :) Agradeço o comentário.

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